domingo, 25 de novembro de 2012

Renovando o guarda-roupa

Enfim um dia aconteceu o que eu tanto temia. Meus pais vieram passar uns dias na capital. Minha mãe precisava fazer uns exames médicos e minha casa era o lugar perfeito para eles se instalarem. Ainda bem que avisaram com tempo. Tinha muita coisa para esconder e pouco espaço para guardar. A primeira coisa que fiz foi comprar uma cama de casal (ela acabou se tornando muito útil, conforme contarei depois). Não ia por meus pais para dormir no chão. E também um guarda-roupa maior e duas malas grandes. Tudo no crediário. Tirei o fim de semana para fazer uma grande faxina nas minhas coisas. Roupa velha, que eu não gostava mais ou que não era do tamanho certo (acontece muito com as crossdressers, viu). Algumas coisas me deu dó jogar fora, mas não tinha muita escolha. Principalmente as sandálias de salto. Como eu já disse, adoro elas, mas ocupam muito espaço. Então prometi pra mim mesma que depois que eles fossem embora eu ia comprar algumas novinhas. Calcinhas, camisolas, camisetinhas, mini-saias, shorts, vestidos, meias, muuuuuita lingerie e até uma peruca. Joguei tudo fora. O que sobrou guardei nas duas malas e num dos lados do guarda-roupa, que tranquei e guardei bem a chave.

Pelo jeito eles nem perceberam nada. No fim de semana seguinte, antes deles voltarem para o interior fomos almoçar na casa dos meus tios, que me deram um puxão de orelha porque desapareci. Foi o reencontro também com a minha prima, linda como sempre. Ainda tenho a fio dental branca que roubei dela, e que considero minha primeira calcinha. Ela causou um pouco de mal estar no almoço. Fazia pouco tempo tinha ido morar com o namorado. Não quis nem saber de casar. Os pais não gostaram nem um pouco. A única filha, imaginem só, eles sonhavam ver subindo o altar toda de branco. Como já disse, nunca fui com a cara do namorado dela e também acho que ela era muito nova pra se casar, mas admirei muito ela ter feito isso. Demonstrou que é mulher de opinião. Embora eu acho muito bonito uma noiva bem vestidinha e arrumada. Já fantasiei que estava em lua de mel, com um belo vestido, curto e agarradinho, e tudo branco, claro: véu, sutiã, luvas, calcinha, meia 7/8, cinta liga e sapato salto alto. Aí imagino que vou para um motel bem chique, com meu noivo gostoso, e fazemos muita sacanagem. Essa é a melhor parte. Casamento, nem pensar.

Mas aí sobrou pra mim. Para amenizar um pouco a conversa, meus tios quiseram saber se eu tinha namorada, se eu não ia casar, blá, blá, blá. Para mim, não amenizou nada. Fiquei vermelho e mal consegui balbuciar um não. Mas eles insistiram, com a ajuda dos meus pais. Eu já estava na idade, precisava de alguém para cuidar de mim etc. etc. Quem me salvou foi minha própria prima, que acabou mudando de conversa. Ela percebeu que eu não estava à vontade e acho que ela percebeu também algumas coisas sobre meus gostos pessoais. Ela tinha um olhar de cumplicidade. Gostei disso, porque sempre quis me aproximar dela. No dia seguinte, quando meus pais foram embora, minha mãe retomou o assunto. Ainda bem que os exames dela não apontaram nenhum problema grave, então entendi que ela não voltaria tão cedo para a capital. Mas também comecei a perceber que eu precisava assumir certas coisas...

Nas semanas seguintes, com o pouco crédito que me sobrou, comecei a refazer meu guarda-roupa. Mais lingerie, camisolinhas, e as sainhas e sandálias que eu tanto adoro. O triste dessa parte é ter que jogar fora peças novinhas porque não são do tamanho certo, ainda mais com pouco dinheiro. Concordo com minha colega Tatiany Sweet, temos que provar mesmo as roupinhas que compramos. Calcinhas a gente não pode provar, mas essas eu não erro mais. Uma coisa aprendi logo cedo: calcinha fio dental é muito bonitinha, deixa a bundinha uma delícia, mas se for minúscula na frente (ótimo para as mulheres depiladinhas!) o piupiu fica quase todo de fora. Quando a coisa esquenta, então...

Fui me reconhecendo também nos tipos de crossdresser que sou. Divido as crossdressers em vários tipos. Os principais: menina, piriguete (ou perua), mulher. Me encaixo principalmente no primeiro. Crossdressers meninas gostam de ficar descontraídas, com pouca roupa, mas são bem atrevidas. Vestem blusinhas, sainhas, shortinhos, calcinhas tipo cueca (ou caleçon) e sandálias baixas e usam uma maquiagem mais leve. Era assim que eu me via quando comecei a paquerar o Saulo e como vocês já perceberam ele gostou muito. A Tatiany também descreve bem como é ser uma menina: "Ele me viu de sainha, com uma blusinha coladinha, com a perninha toda lisinha e descalça!" As meias 5/8 também dão esse ar de menina. Chegam até um pouco acima do joelho, mas são muito difíceis de encontrar, principalmente as listradas, minhas favoritas.



Já a CD piriguete gosta de exagerar em tudo: salto muito alto, sainha e blusinha bem curta, calcinha minúscula, bunda e peitos bem salientes, maquiagem e esmalte fortíssimo, muitos acessórios. Eu também tenho coleções que se encaixam nessa categoria, mas uso só em ocasiões especiais. E a crossdresser mulher usa roupas mais sóbrias, para o dia a dia na rua. Isso eu nunca fiz, mas talvez um dia...